Não vou dizer que é melhor do que as outras, mas é nossa e gosto muito dela por isso.
Também muito boa, mas ligeiramente inferior, é a sondagem do jornal «El Mercurio», do Chile.
Porquê? Porque pediram a opinião deste que lhe escreve, leitor, com tanto carinho. Lá consultei a crítica dos meus colegas de redacção e fiz a minha escolha.
A maior divergência surgiu na eleição do atleta do ano. Entre Michael Phelps, Usain Bolt e Rafael Nadal, a escolha não é fácil, admito.
Mas neste ponto bato o pé. Phelps foi fantástico. Nadal derrubou um mito. Mas Bolt fez-me correr um frio pela espinha.
Infelizmente o frio só percorreu a minha espinha na repetição das televisões. O que eu não perdoo.
Tinha sido convidado pelo meu irmão para um café. Indiferente ao que acontecia na televisão, passava os olhos pelo jornal de costas para o ecrã gigante.
Eu lia. Ele olhava para a televisão. Esta nossa convivência saudável foi interrompida. «Acabaste de perder um momento histórico», atirou, com aquele ar de quem está sempre a lixar-se para tudo. Virei-me de costas e só já vi as vinte repetições.
Desde então não consigo evitar uma certa dificuldade em dirigir-lhe a palavra. O leitor entende-me.
Durante 9,69 segundos não se lembrou de me avisar que estava a passar um meteorito pela terra. O homem correu cem metros e ele não teve tempo de me avisar.
O que as repetições me mostraram deixou-me arrepiado. A facilidade com que Bolt pulverizou a concorrência foi épica.
O arranque, a aceleração, o abrandamento nos vinte metros finais, a imagem do jamaicano sozinho sobre a meta. Foi tudo épico.
Poucos dias antes tinha lido uma crónica de um jornalista da «Marca» que viajara no mesmo avião que Bolt para a China. Dizia ele que devia ser a única pessoa dentro do aparelho consciente que aquele ameaçava tornar-se o homem mais rápido de sempre.
Partilhou-o com uma assistente de bordo e ela teve dificuldade em acreditar. Eu, confesso, se estivesse no avião juntava-me à assistente. Conhecia o nome de Bolt, sabia que era um dos maiores velocistas, mas ignorava que era um fenómeno tão grande.
Dias mais tarde o mundo confirmava a intuição do jornalista espanhol. Usain Bolt é realmente o maior velocista que o mundo conheceu. Para mim, aliás, 2008 ficará como o ano em que a História passou a correr pela Terra. E eu virei-lhe as costas.
«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui todas as segundas e quintas-feiras
RELACIONADOS
Opinião: Obrigado, raios a partam
Opinião: Não incomodem, estou a tentar desprezar o Barça
Opinião: Vieira não cozinha, mas faz chá
Opinião: Scolari, o meu D. Sebastião do futebol português
Opinião: O Brasil-Portugal como ele não devia ser visto
Opinião: O futebol sabe tratar quem lhe quer bem
Opinião: O futebol são eles, o inferno são os outros
Opinião: De Portugal para o Mundo, yes he can't
Opinião: É a vida, é
Opinião: Drogba, mais do que o melhor do mundo
Opinião: de Alvalade para parte incerta
Opinião: sim senhor, este tipo é genialmente simples
Opinião: estão a rir-se de quê?
Opinião: é possível não gostar de Quique?
Opinião: Dos fortes não reza a história
Opinião: o craque das nossas vidas
Opinião: E você, ama a sua camisola?
Opinião: Ronaldo, sim, mas até que ponto?
Opinião: Scolari no Chelsea? Duvido
Opinião: Valdano, um homem na cidade errada
Opinião: E ela aceitou, Domenech?
Opinião: Laranja, que te quero mecânica
Opinião: É uma casa portuguesa, com certeza
Opinião: John Terry, apenas um tipo como nós
Opinião: Quaresma, a trivela e as curvas do futebol