DESTINO: 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's. 
 
PETAR KRPAN: Sporting (1998/99); U. Leiria (1999 a 2001; 2004/05)
 
Bola na frente e lá vai o Krpan. A descrição não é muito trabalhosa, mas assume-se exata ao estilo de Petar Krpan, um avançado de atalhos. Uma linha reta em direção ao golo. Um velocista.
 
O estilo não o terá beneficiado muito numa equipa como o Sporting, de ataque continuado, que tentava mandar em todos os jogos. Mas foi em Alvalade que se lhe abriram as portas de Portugal, um destino novo. «Não conhecia nada sobre o Sporting quando vim», assume.
 
Krpan chegou a Portugal em 1998, ainda no rescaldo do Mundial de França, onde tinha estado com a Croácia, grande sensação do torneio.
 
O Sporting da altura restruturava-se e, pela primeira vez em muitos anos, começava a época sem assumir a candidatura ao título. Eram já 17 temporadas sem chegar ao fim em primeiro e José Roquete, então presidente, apostava num novo nome para o banco: Mirko Jozic.
 
Croata vindo de uma experiência na Argentina, depois de também ter experimentado Chile e México, Jozic rejuvenesceu o Sporting. Nesse ano chegaram muitas caras novas a Alvalade. Duscher, Delfim, Quiroga, Heinze, a promessa nunca cumprida Julián Kmet, até o já veterano Acosta. Entre eles Krpan.
 
«Fui para o Sporting por causa do Mirko Jozic. Ele pediu e o Ivkovic veio convencer-me. Antes de ir para lá não conhecia nada do Sporting. Agora estou sempre a ver os jogos na televisão. Vi o dérbi com o Benfica. Estava a torcer pelo Sporting, claro. Foi uma pena», conta Krpan, em conversa com o Maisfutebol.
 
Fomos descobri-lo na Croácia, onde tem uma Academia de Futebol juntamente com Marko Babic, antigo lateral do Bayer Leverkusen e Betis de Sevilha, entre outros. É, também, selecionador sub-17 da Croácia.

 
Krpan durante a festa de Natal da Academia

Mas ao Krpan de hoje já lá vamos. Interessa-nos, para já, recordar o Krpan dos relvados lusos. O do Sporting, por exemplo.
 
«O início foi difícil sobretudo por causa da língua. Tinha a sorte de ter o Jozic e o Ivkovic. E tinha aulas três vezes por semana», explica. Ainda hoje fala português corretamente, de resto.
 
A cidade que o acolheu, contudo, cativou-o: «Gosto de Lisboa. Gosto de Portugal para caraças!»
 
«As minhas filhas também gostam muito. Vou aí várias vezes, de dois em dois anos, talvez», acrescenta.
 
Campeão à distância: «Foi difícil ver de fora»
 
A primeira época foi irregular mas com números interessantes. Somou 27 jogos na Liga, 14 deles como titular. Marcou quatro golos. Pediam-lhe mais, mas Krpan assume dificuldades de integração.
 
«Foi difícil entrar na equipa porque havia bons jogadores e o futebol era muito diferente na Croácia. Não fomos campeões e no ano seguinte comecei a jogar menos», lamenta.
 
A troca de treinador não o terá ajudado. O título fugiu para o «penta» FC Porto em 1999 e José Roquete trocou o treinador. Saiu Jozic, veio Giuseppe Materazzi. Italiano de feitio difícil que pouco durou. Acabou por ser Augusto Inácio a pegar na equipa com os resultados que se conhecem: campeão em 2000.
 
Krpan, esse, já tinha rumado mais para norte. «No ano seguinte fiz alguns jogos e saí. Queria jogar mais. Tinha 25 anos e acho que foi o melhor para mim», assume.
 
Viu de fora a festa do título, apesar de também ele ser campeão pelos dois jogos em que participou. «Foi um alento para mim. Mas é difícil ver de fora. Não sei se foi a melhor decisão, mas na altura não pensei duas vezes: eu queria era jogar», insiste.
 
Seguiu-se a experiência em Leiria. Positiva, sublinha. «Leiria foi bom. Manuel José é um bom treinador. Fala muito a sério de futebol. Quando saí foi para lá o Mourinho, sabe? Foi pena. Foi azar. Gosto muito dele e gostava de ter trabalhado com ele», admite.
 
Ficou na cidade do Lis até 2001, quando terminou o contrato com o Sporting. Com um grande azar pelo meio. «Parti a perna num treino e com o contrato a acabar acabei por não conseguir mais nada. Ainda falei com o Rio Ave, mas não aceitaram as condições e com a perna partida ficou mais difícil. Voltei à Croácia», recorda.

 

Quando o U. Leiria travou o campeão europeu
 
Não seria o fim do capítulo em Portugal porque, em 2004, o telefone voltou a tocar com indicativo luso. E de novo de Leiria. A equipa de Vítor Pontes precisava de um avançado e pensou em Krpan. E ele voltou.
 
Fez mais 26 jogos e cinco golos. Um deles especial, ao FC Porto, no Dragão, que valeu um empate. «O FC Porto era campeão europeu naquela altura. Foi um grande feito termos empatado lá», recorda.
 
Marcar ao FC Porto, de resto, nem era novidade para Krpan: «Houve um 3-1 em Leiria em que marquei dois golos, também. Acho que no FC Porto não deviam gostar muito de mim (risos).»

Os dois golos ao FC Porto:

 

Depois da segunda passagem por Leiria, Krpan voltou à Croácia. Antes de terminar a carreira, em 2007, ao serviço do Inter Zapresic, ainda teve tempo para a mais exótica experiência da carreira: jogar na China, no Jiangsu Sainty. 

«Não gostei, sinceramente. Só foi bom pelo dinheiro (risos). Estive lá três meses e voltei para a Croácia. Se aconselho a alguém? Depende. Se não houver mais nada. Se houver, mais vale ficar na Europa», defende. 

Quando Schmeichel trocou as cuecas ao balneário
 
A vários quilómetros de distância, Krpan continua atento ao que se passa em Portugal. Viu o dérbi, fala regularmente com os amigos que cá deixou.
 
«O meu primeiro grande amigo foi o Nelson, o guarda-redes. Também o Rui Jorge, o Pedro Barbosa, o Vidigal, que era o meu companheiro de quarto», explica.
 
Um bom companheiro de quarto, quisemos saber? Krpan ri com a pergunta. «Quando o vi…(risos) Preto, grande…(mais risos). Estou a brincar, era espetacular ele», atira.
 
Dos tempos em Alvalade recorda bons momentos. E um dia em especial em que um gigante dinamarquês se meteu consigo e…com todo o balneário. E ninguém ripostou.
 
«Uma vez, num treino, o Schmeichel saiu mais cedo, entrou no balneário e trocou-nos as cuecas e as meias a todos. Que confusão. Ficamos um bocado chateados, mas íamos dizer o quê? Era o Schmeichel! Ele era espetacular. Bom profissional. Quando era para trabalhar, trabalhava, quando era para brincar, brincava», resume Krpan.

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