Em entrevista ao Maisfutebol, Luís Neto recorda o duelo mais complicado da sua carreira. O defesa da Seleção Nacional e do Zenit diz-nos quem é o seu ídolo de sempre e fala dos colegas com que mais gostou de jogar no centro do quarteto defensivo. Tempo também para algumas confidências sobre os afazeres domésticos, um regresso aos tempos de escola e o reconhecimento público aos maiores amigos no futebol.

Quais as características essenciais num bom defesa central?
«Temos de conhecer bem os avançados que iremos defrontar. O futebol moderno não se resume ao plano de quem marca e quem sobra, vou eu ou vais tu. Não, é muito mais do que isso. O jogo evoluiu, tudo se decide em pormenores. Eu posso estar a fazer um grande jogo, mas se cometer um erro grave na defesa, vou ter nota negativa. Estamos muito expostos».

«A força psicológica é essencial num central. E depois há as qualidades naturais. Eu mantenho as minhas, acho: a antecipação, a leitura do jogo e o passe. Era um jogador franzino, elegante, não gostava de mandar chutos para a bancada, mas às vezes tem de ser, nem que seja com um bico».

Qual foi o adversário que mais problemas lhe causou?
«Luís Suarez (risos). Numa eliminatória da Liga Europa. Já tinha defrontado o Milito, o Totti e o El Sharawy em Itália, outros excelentes avançados, mas o Suarez foi o mais complicado de sempre. Nenhum defesa gosta desse tipo de avançados. Está no meio, cai na esquerda, foge para a direita, nunca desiste. Amarra, puxa, vem sempre de pé feito, é um problema. É mesmo bom jogador, tivemos um duelo fantástico. Aos dois minutos do primeiro jogo veio logo para cima de mim e percebi que ia ter problemas (risos)».

E qual o colega com quem melhor se entendeu na defesa?
«Na formação do Varzim tive o Ricardo Silva. Jogou sempre comigo. Deixou o futebol e tirou o curso de Contabilidade e Administração. Ele era maluco pela AS Roma e o Sporting, dizia que íamos jogar juntos nos seniores. Não aconteceu. Mais tarde o Pedro Santos, ainda no Varzim, e no Nacional o Danielson, um jogador muito experiente. E o Felipe Lopes. Falta falar no Bruno Alves, um colega marcante na minha carreira».

Dois anos depois de sair de Portugal, é uma pessoa diferente?
«Mantenho os meus traços de personalidade e a minha educação. Claro que estas vivências mudam algumas coisas. Quando eu jogava no Varzim não pensava sair da Póvoa. Sentia-me preso, no bom sentido, pelos meus pais, a minha namorada Andreia, a minha irmã, o meu afilhado e os meus amigos. Quando saí para o Nacional tive de adaptar-me e depois ainda mais, em Siena e em São Petersburgo».

«Comecei a resolver as coisas sozinho. Na Póvoa, a família reunia-se e tomava as decisões. Estava habituado aos pequenos mimos do dia-a-dia. Nunca tive de fazer a cama, a minha mãe e irmã tratavam de tudo. Nesse sentido, foi bom mudar. Tive de começar a desenrascar-me sozinho. Sinto-me mais preparado para tudo, sou mais responsável».

Durante a infância teve algum ídolo?
«Sempre o Fabio Cannavaro. O Luís Figo também. Na minha posição refiro mais alguns: Alessandro Nesta, Fernando Couto, Bruno Alves e Ricardo Carvalho».

Era bom aluno, gostava da escola?
«Até ao oitavo ano tive boas notas, depois fui um aluno razoável, de 14. Reprovei só no 12º ano porque deixei matemática para trás. Depois entrei na faculdade, no curso de Desporto. Estive em Melgaço e depois em Coimbra, onde vivi com o meu primo Ricardo, guarda-redes da Académica. Além de familiar é um grande amigo e um excelente profissional. Ele, o Márcio Madeira, que está agora no Moreirense, e o André André, do Vitória Guimarães, são os meus grandes amigos no futebol».