Seis meses em Itália, ao serviço do Siena, tornaram Luís Neto num nome importante no calcio. Em entrevista ao Maisfutebol, o internacional português revela os pormenores deliciosos do balneário do clube toscano e recorda a pressão permanente imposta pelo capitão Simone Vergassola. Pátria dos melhores defesas do mundo, Itália é um país no coração do defesa nascido na Póvoa de Varzim.

Está há dois anos fora de Portugal. Itália e Rússia foram opções acertadas?
«Sim, não me arrependo minimamente de ter escolhido o Siena e o Zenit para as minhas primeiras experiências no estrangeiro».

São dois campeonatos muito diferentes...
«Muito, em Itália, por exemplo, o capitão de equipa é uma figura sagrada. Nunca tinha visto coisa assim. Quando cheguei ao Siena, a primeira pessoa que me apresentaram foi o capitão, o Simone Vergassola. Mesmo mais tarde, quando eu já era titular e tinha alguma moral, ele era o primeiro a chamar-me a atenção. Se chegasse dois minutos atrasado, já sabia que o tinha de aturar».

Isso incomodava-o?
«Havia alguns exageros. Nos outros clubes e na seleção é normal haver música no balneário até irmos para o aquecimento. Em Itália não. A música é substituída pelas palavras dos jogadores mais velhos: hoje é para dar tudo, hoje só pode dar vitória. É uma tensão permanente, é essa a mentalidade deles».

«Lembro-me que fomos ganhar ao Inter, ganhámos em casa ao Bolonha e depois perdemos 2-1 com a Juventus. Golo do Marchisio, mesmo a acabar. Mas fizemos um grande jogo. No dia a seguir fui para a seleção e os dirigentes vieram ter comigo. Disseram: vai lá, aproveita e diverte-te porque depois aqui as coisas vão aquecer. Íamos ter jogos contra equipas do nosso nível. Catania, Palermo, Atalanta. Era uma pressão permanente.»

Como é que as pessoas de Siena, os adeptos comuns, vivem o clube e o futebol?
«Gostei muito de viver lá. O ambiente é muito familiar. Os adeptos são apaixonados, sem serem radicais. Contra os clubes grandes o estádio estava sempre cheio. Mesmo no centro histórico da cidade as pessoas abordavam-me com carinho. É um sítio muito bonito e ficava perto de Florença, outra cidade extraordinária».

Gostava de voltar a Itália?
«Os melhores defesas do mundo sempre estiveram em Itália. Cannavaro, Nesta, Maldini, Baresi, tudo italianos. E isso sempre me deu vontade de jogar lá. Desde miúdo. Nem tudo me agradou durante a minha permanência, mas senti-me bem. Aprendi rapidamente a língua, gostei da comida, seguia com atenção o campeonato... é um bom país».

Depois optou pelo Zenit. Porquê?
«O mercado de transferências de janeiro [2013] estava a encerrar e pensava que ia ficar no Siena. Sabia que alguns grandes italianos estavam interessados, mas não passava disso. Um dia ia treinar e o nosso diretor desportivo ligou-me. Olha, estás dispensado do treino, vem ter comigo a Milão porque temos de falar. Foi aí que me falaram do Zenit. Assinei no dia 2 de fevereiro. Hesitei, confesso, tive de pensar muito, mas escolhi bem».