Um ano em São Petersburgo cheio de estórias e experiências fortes na companhia de grandes amigos e num balneário com pormenores estranhos. Luís Neto fala de tudo numa longa entrevista ao Maisfutebol, desde a cumplicidade com Bruno Alves à defesa de Hulk e Axel Witsel. Relatos na primeira pessoa com passagem pela Sibéria e a Mordóvia.

Na Rússia, os primeiros tempos foram mais complicados?
«No que diz respeito às burocracias, não. Em Itália até foi tudo mais moroso. Na Rússia fui logo para casa do Bruno Alves. Depois arranjei casa no mesmo condomínio e isso facilitou tudo. Moravam lá também o Criscito e o Danny. Depois também passei uma temporada em casa do Hulk. Ou seja, a minha adaptação foi muito facilitada por ter esses amigos comigo».

E no clube, os jogadores russos receberam-no bem?
«Falar russo é complicado e eles não falam inglês. Ou seja, o meu lote de amigos ficou resumido a seis/sete jogadores. Dou-me bem também com o Witsel, o Lodygin, o Ansaldi e com dois miúdos sérvios [Lazovic e Lukovic]. Os colegas russos têm uma personalidade diferente. São mais distantes, mais frios, pelo menos os mais experientes. Os mais novos já se aproximam mais».

Gosta de estar no Zenit?
«O clube oferece condições de trabalho fantásticas. As coisas boas superam claramente as coisas más. Eu gostava de falar melhor a língua russa e integrar-me ainda mais. Não existe qualquer preconceito da parte deles. Estamos todos ali para ajudar».

Para um jogador ambicioso a liga russa já tem um nível satisfatório?
«Não é uma liga mediática, mas as equipas estão bem preparadas. A maioria dos clubes tem poder financeiro, grandes investidores. Oferecem boas condições de vida e cativam grandes jogadores. Há sete/oito equipas capazes de lutar pelo título: a nossa, as duas de Krasnodar, o Rubin Kazan e as quatro de Moscovo. Não há jogos fáceis».

«As equipas são fortes fisicamente e quem joga em casa tenta sempre dominar o jogo. Perdemos contra uma equipa da II Divisão, para a taça, e eu nunca tinha visto uma equipa a correr tanto. O jogo foi na Sibéria, num sintético, e nem conseguíamos trocar a bola».

Foi essa a experiência mais dura na Rússia?
«Não, a mais difícil foi na Mordóvia, contra o FC Saransk. Estavam 15 graus negativos. Eu nunca jogo de luvas, mas aos 20 minutos senti os meus dedos a queimar e tive de ir ao banco pedir umas».

A saída do Bruno Alves para o Fenerbahce foi uma má notícia para si?
«Sim, foi. Ele disse-me que precisava de um novo desafio. Temos muitas coisas em comum, sempre foi um enorme apoio e jogámos juntos muitas vezes. Tenho pena de não estar com ele dois/três anos no mesmo clube. Tem uma mentalidade forte, sabe criticar, é exigente. As nossas famílias tinham uma boa relação, jantávamos juntos, permitia-me esquecer as saudades de casa».

É verdade que o Hulk teve problemas por ter um salário principesco?
«Só cheguei depois. O Bruno e o Danny assistiram a isso. Os jornais falavam mais dos salários do que do valor do Hulk e do Witsel. Aquilo levantou uma série de questões. Normalmente o jogador mais bem pago do plantel é russo. No Zenit era assim até à chegada do Hulk. E depois havia a questão do nosso patrocinador ser uma empresa público-privada. Passou-se a ideia que era o dinheiro das pessoas que pagava o salário dos estrangeiros. Tudo foi explicado e as pessoas sabem hoje que o Hulk e o Witsel são duas mais-valias».

O ambiente no balneário do Zenit é bom?
«É bom, mas há pormenores que me fizeram estranhar as coisas. Por exemplo, cada jogador tem um compartimento individual, um quartinho onde pode estar e equipar-se sozinho. Há áreas comuns e no primeiro andar temos essas zonas privadas. Às vezes só nos encontramos para o treino. Mas gosto do ambiente, é saudável. O profissionalismo é total, cinco estrelas».