Foram colegas no curso de treinador, decorria o Verão de 1962. A carreira de Manuel Oliveira correu paralela à de Joaquim Meirim, falecido esta quarta-feira. Foram rivais em campo, adversários no Sindicato de treinadores, afastaram-se progressivamente dos bancos de futebol, que trocaram pela cadeira de comentadores de rádio ou televisão.  
 
«Joaquim Meirim era um apaixonado do jogo», recorda Manuel Oliveira. «Marcou uma época nova dos treinadores em Portugal, fez parte da nova vaga que surgiu na década de 60. Ele fez o curso comigo e com outras pessoas como Mário Wilson ou Carlos Silva. Era um indivíduo inteligente, que não nasceu no futebol, mas bateu-se sempre pela causa dos treinadores, à maneira dele.»  
 
Manuel Oliveira recorda particularmente a época 69/70, em que o seu Barreirense e o Varzim de Meirim lutaram até ao fim pela qualificação para a Taça UEFA. «O Meirim teve uma carreira de topo em determinada altura, passou pelo Boavista, pelo Belenenses, pela Cuf e teve o ponto mais alto no Varzim. Pegou numa equipa pouco conhecida e pô-la a jogar num 4x4x2 eficaz. Eu treinava o Barreirense nesse ano, fomos à UEFA e o Varzim foi o nosso grande rival.» O Barreirense terminou o campeonato no quarto lugar mas com os mesmos pontos do quinto (o V.Guimarães) e do sexto (o Varzim).  
 
Joaquim Meirim ficou célebre pelas suas declarações polémicas e pelos métodos de trabalho invulgares, que incluíam preparar campeonatos na praia e na mata e outras histórias que nem sempre coincidiam, como jogadores a carregar troncos ou a subir às árvores. «Inventou-se muita coisa», diz Manuel Oliveira. «Fui treinador de vários jogadores que tinham antes sido orientados por ele e era tudo absolutamente inventado, para criar alegria no grupo.»  
 
De qualquer forma, Manuel Oliveira reconhece que Meirim tinha uma forma invulgar de se relacionar com os atletas. «Foi o primeiro a actuar psicologicamene sobre os jogadores. Tinha uma forma de estar diferente e apareceu com novas formas de gerir o grupo. Criou uma certa amizade com vários dos jogadores e havia quem com ele fizesse maravilhas que não conseguia repetir com outros técnicos.» 

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