Depois de abordada a envolvente do jogo, chega a altura de falar do adversário. A velocidade de Simão, a criatividade de Roger, a dinâmica de Nuno Gomes. Reflexões sobre as alegadas dificuldades defensivas do Benfica e a constatação de que a equipa dos «encarnados» não é ainda muito consistente. «E não sei se o vai ser», analisa o treinador do Nacional.

José Peseiro, em discurso directo:

«Explicámos aos jogadores algumas questões específicas relativamente a certos jogadores do Benfica. A velocidade de execução e de deslocamento do Simão Sabrosa. A criatividade e a capacidade técnica de um Roger, de um Zahovic, a dinâmica e a capacidade de desmarcação do Nuno Gomes. A capacidade de jogo, a sua recepção orientada, a impulsão e dinâmica, que o ponta-de-lança Feher também tem. Qualquer dos dois jogadores avançados são muito móveis e fortes no jogo aéreo.

Depois falámos da grande capacidade ofensiva e defensiva dos médios centros do Benfica. E da qualidade dos seus defesas, que é posta em causa, mas penso que mais pelo processo de jogo ofensivo do Benfica, do que pela capacidade individual de cada jogador.

Vejam por exemplo, o Mitchell Van der Gaag, no último domingo não foi igual a si próprio. Porquê? Porque o Marítimo se expôs muito e não há nenhum central que consiga defender 40 ou 50 metros nas suas costas. Não é possível haver centrais que consigam agarrar pontas-de-lanças mais pequenos, mais rápidos, quando existe uma área de jogo livre de 30 metros.

Quando criticam o Benfica, que envolve muita gente em ataque, esquecem-se que criam desequilíbrios e é nesse ponto que temos de estar atentos. É aí que podemos vencer o jogo. É o arriscar do Benfica que nos pode favorecer. As características ofensivas dos seus jogadores, obrigam a um Benfica de ataque, mas também perturbam o trabalho dos centrais e dos laterais, que se vêem muitas vezes com muito espaços à sua frente. É isso que vamos tentar explorar.

Só que essa capacidade ofensiva do adversário também nos obriga a estar muito atentos no nosso meio-campo, pois os jogadores não podem ter muito espaço para jogar, temos de ser rigorosos e concentrados nas marcações. É que basta três ou quatro metros para eles arranjarem uma situação de golo. Isto obriga-nos a ser muito coesos a defender. Aqui temos de ter capacidade de reacção, pois há que mudar da defesa para o ataque e alargar o nosso jogo. Há que ter disponibilidade física e mental para tal, não somos uma equipa acobardada. Temos que saber aproveitar esse desequílibro, pois o Petit e o Tiago têm mais características defensivas. Nós sentimos que o Benfica, na fase de transição defesa-ataque, ainda não é, e não sei se o vai ser, muito consistente.»

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