PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. Cultural, quero crer. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura, no teatro. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Mas não só. Ideias soltas, reflexões comuns, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera das nossas prioridades. PLAY.

SLOW MOTION:

«AFGHAN PREMIER LEAGUE». Cabul. Morteiros, minas terrestres, talibãs escondidos, vidas interrompidas, mortes estúpidas e desnecessárias. Sim, mas não só. Cabul também é futebol. Futebol profissional, de resto, como o vídeo seguinte pode atestar.

O investimento financeiro foi gigantesco, a organização cuidada ao milímetro, os estádios deixaram de ser campos de refugiados e passaram a ser o que nunca deviam ter deixado de ser. O Afeganistão tem uma nova liga de futebol e promete em breve exportar futebolistas para o exterior.

O primeiro campeão nacional, coroado em outubro, chama-se Toofan-e Harrirod. Na final derrotou o Simurgh-e-Alburz por 2-1. Oito clubes, quatro mil espetadores em média nos estádios, o triunfo do desporto num território de lamentos, convulsões e intolerância.

O futebol não é importante? Não tenham o atrevimento de pensar isso.



PS: «CLOUD ATLAS», de TOM TYKWER e WACHOWSKI BROS.O verão tem poucos defeitos. Só lhe encontro um, aliás. A qualidade péssima dos filmes em cartaz. Esse mal já lá vai. Chega o frio, a tentação da lareira e da manta, a aproximação dos Oscars e, com eles, as melhores ofertas da Sétima Arte. Vi este Cloud Atlas há duas semanas. Tinha tudo para ser uma confusão sem sentido, uma manta (lá está) sem retalhos de interesse. É uma obra-prima de seis histórias interligadas. Retumbante.

SOUNDCHECK:

«LA GLORIA», GOTAN PROJECT. Tango, eletrónica, relato de futebol. É uma mistura arrojada, claramente, mas estes rapazes sabem bem o que fazem. Vi-os há uns anos no Coliseu do Porto. Hipnóticos, insinuantes, capazes de derreter o olhar mais gelado da plateia.

Vejam isto e arrepiem-se a partir dos 1.35 minutos. A narração naquele jeito sul-americano, inconfundível, inimitável, a remeter para tardes loucas na Bombonera ou no gigante Monumental.



PS: «BLOOM», dos BEACH HOUSE. É uma das maravilhas de 2012. Lista sobre a revisão anual que se preze tem de ter lá este duo de Baltimore. Victoria LeGrand e Alex Scally capitalizam um som emoldurado em sintetizadores elegantes, guitarras negras e uma voz caída dos céus. Fica a sugestão, aproveitem-na, deliciem-se.

VIRAR A PÁGINA:

«THE HISTORY OF FOOTBALL TACTICS - Jonathan Wilson». Para os que olham o futebol através do extraordinário vislumbre da estratégia, esta é uma obra obrigatória. O autor, em escrita inatacável, começa a obra como se fosse uma conversa de amigos, logo a seguir a um bom jantar.

Tece a teia da intriga, alimenta a discussão, viaja pelos primórdios da composição tática (1x2x7, 2x3x5, WM, 4x2x4, 4x4x2, 3x5x2), até dissecar alguns dos maiores mestres do treino: Herrera, Lobanovskiy, Sacchi, Chapman.

A conclusão do autor é esta: o futebol está tão estudado, tão analisado, que deixou de haver espaço à surpresa, à evolução da colocação das equipas em campo. Enfim, bola do princípio ao fim. Como nós gostamos.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.