PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«GOAL: THE DREAM BEGINS» – Danny Cannon.

Se está a ler este texto, é porque gosta de futebol. Seja, pois, bem vindo. E se gosta (ou ama, como eu), então é provável que um dia, lá muito atrás no passado, tenha sonhado em ser uma estrela dos relvados mundiais.

Espero, sinceramente, que tenha tido mais sorte do que eu. E, já agora, talento.

Seja como for, é sempre bom recordar os dias em que ainda acreditávamos. Ingénuos, talvez. Apaixonados, seguramente.

Acreditávamos em reeditar o slalom gigante de Maradona entre ingleses ocos; acreditávamos fanaticamente na impossibilidade metafísica de decidir uma final europeia de calcanhar; acreditávamos, e ai de quem nos afrontasse, em tocar a bola com a mão e levantar 120 mil almas nas bancadas; acreditávamos, enfim, em ser Valdo, Balakov ou Domingos Paciência.

Os defesas centrais e os trincos carrancudos que me perdoem, mas nunca sonhei ser um deles. Feitios.

Tudo isto vem a propósito deste filme. Fala de um menino chamado Santiago Muñez, natural de Los Angeles e de origem hispânica. O sonho leva-o ao Newcastle United e o conto torna-se uma fábula capaz de nos reconduzir a sítios que julgávamos perdidos nas ruas empedradas da nossa infância.

Como nós, Santiago acreditou. Arriscou, viu lama pela primeira vez, suportou a frivolidade e a agressividade taurina dos futebolistas britânicos. E todos nós voltamos a acreditar.



PS: «12 Years a Slave» - Steve McQueen.
Solomon Northup. Se tiver a simpatia de ver o trailer e resistir a ir ao cinema, é provável que esteja a ler o texto errado. Este filme é a Sétima Arte a abraçar a humanidade de uma personagem inesquecível. Solomon Northup ficará amarrada ao nosso coração. Steve McQueen (não confundir com o histórico ator de Papillon) já me cativara na obra anterior, Shame. Com esta, é mais do que provável que ganhe os primeiros Óscares.



VIRAR A PÁGINA:

«O ESTADO NOVO E O FUTEBOL» - Ricardo Serrado.

Domingo de manhã. Desperto mais cedo do que o costume. Espera-me um direto para a TVI24. Preparo a análise a fazer sobre os jogos da Taça de Portugal. Ao sair de casa, recebo um beijo ensonado e um alerta da minha fã número um. A pessoa que menos gosta e menos sabe de futebol que conheço: «o Eusébio morreu».

Reajo com conformada naturalidade. Por um motivo. Cruzei-me várias vezes com o inesquecível Pantera Negra no Euro2012 e assustei-me com a sua fragilidade. A notícia, tristíssima, não me apanhou desprevenido.

Este livro é uma boa ferramenta para recuperar uma fase especial da sua imortal carreira. Até sempre, King!

SOUNDCHECK:

«EUSÉBIO» - Sheiks.

A mais famosa banda rock portuguesa da década de 60 prestou homenagem ao finado goleador. E aos restantes Magriços, heróis do Mundial de 66.

«Só não ficámos com a taça / mas fica tudo contente / (…) Lá ninguém nos conhecia nem dava nada pela gente».



PS: «LIKE CLOCKWORK» - Queens of the Stone Age.
2013 foi de Josh Homme y sus muchachos. Ao sexton álbum da discografia, a banda californiana supera-se. Escuro, complexo, às vezes angustiante, um dos grandes discos do último ano. Nick Oliveri, Mark Lanegan, Trent Reznor, Jake Shears, Alex Turner, Elton John e Brody Dalle são os digníssimos convidados de honra. Dave Grohl voltou a tomar conta da bateria.



«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.