«W [Bush] was the guy who waved to Stevie Wonder!» Ui! Mauzinho! «Bill [Clinton] was the only one who got a jewish girl who could not get a stain off». Genial! One man show, já depois da cirurgia de peito aberto, na tournée «Weapons of Self Destruction». Em Agosto de 2011, e julgo que ainda agora, mas tal será de certeza por mero acaso, Robin Williams não faz ideia quem seja Jorge Jesus, o «Mestre da táctica».

Verdade-verdadinha é que não gostamos nada. Não, não gostamos nem um pouco. Não gostamos que falem mal de nós, que digam que errámos, que não estivemos no mínimo bem. Somos pouco críticos, nós portugueses, porque talvez sejamos incapazes de rir de nós próprios. E o não faças ao outro o que não queiras que te façam a ti persegue-nos vida fora. As nossas avós, vestidas de luto desde que somos crianças, ensinam-nos os dogmas que nos salvarão ou destruirão daí a uns anos, entre torradas pintadas a doce de framboesa e leite com Ovomaltine. Jesus, todos sabemos, seria incapaz de sequer abrir ligeiramente o canto da boca, perante a mínima palavra desfavorável, num sorriso amareladamente forçado. Que diria Robin Williams do Zlatan Abramovich, do Newcasten, da Primeirashipin, dos, ainda não mundialmente conhecidos mas a caminho disso, motocards da Amadora?

«Maria Shriver está cada dia mais magra, mais pequena, cá para mim o Arnold [Schwarzenegger] está a sugar o Kennedy que há nela.»

Jesus bem que poderia ser o velho Heráclito da seleção de filósofos gregos no sketch dos Monty Phyton. Uma barba, o indicador apontado ao céu e feito! Podia ser Platão ou Aristóteles. Estes ou um outro qualquer, a pisar a relva de um lado para o outro, de mão no queixo, a tentar inventar uma solução para aquela bola parada ao centro, deixada órfã por Kant, Schopenhauer, Hegel e a surpresa no onze idealista da Mannschaft: o jovem Beckenbauer. Karl-Marx começou no banco? De certeza que Jesus não gosta dele.

Ele não sabe tudo. Não sabe que Abramovich recua até ao meio-campo para ter a bola e, logo ali, o ressonante Parc des Princes sustém a respiração. Não sabe que necessita de quem o rodeia, precisa que os jogadores decidam a maioria dos encontros, deixando-lhe apenas o Cubo de Rubik para resolver. Precisa do pé direito de Cardozo, dos penalties de Lima, dos cruzamentos de Gaitán, da explosão de Rodrigo. Precisa que Vieira se cale até que o clube ganhe novamente alguma coisa, que Raul José o contrarie de vez em quando, que Rui Costa descubra mais pérolas neste planeta ou num outro. Precisa de olhar-se ao espelho e perguntar-se a si mesmo: «Eu disse mesmo Manchester Unáite?»

O inventor Jorge Jesus reclama há muito várias patentes no jogo. E isso contribui essa aura de soberba que tem. Acumula tanta que nunca caberia neste texto, mesmo que a dividíssemos por vários post scriptum. O Benfica joga mais ou menos da mesma maneira desde que chegou, com um título de campeão, e algumas finais perdidas. Mas o paradigma não voltou a ser baralhado e dado de novo, apesar das experiências que provaram que não era tão paradigma assim. Errar é humano, mas não é de Jesus; cometer o mesmo erro duas, três vezes ou mais cheira a falta de auto-crítica, já que não se aceita a dos outros.

Na Luz, a palavra divórcio atravessa as paredes dos gabinetes como uma sentença.

«Sabem qual é a diferença entre um tornado e um divórcio no sul? Nenhuma. Alguém vai ficar sem um atrelado, é um facto.»

Com ou sem Estoril, os cinco pontos, o empate com o Belenenses, a derrota em Paris fazem com que o mau-humor aumente a cada entrevista rápida, a cada ida à sala de imprensa. Sobretudo quando corre mal.

«Eu sei o que valho!», diz o técnico, repetidamente.

Todos sabemos que sim. Jesus sabe o que vale. Robin não perdoa. «Vocês sabem que Sarah Palin, no liceu, foi votada como a aluna menos provável para escrever um livro, mas a mais provável para queimar um?» Mas não pode ser só isso, Jesus tem de saber que vale mais daí a uns meses, a um ano, dois anos. O mundo não parou quando chegou à Luz. A história continua, e não tem ajudado. Não tem parado sequer para ir beber um copo, como uma boa amiga.

«Mr. Williams, this is Mr. Jesus.»
«So, it's true! You are not in Heaven anymore?»

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«Era capaz de viver na Bombonera» é um espaço de opinião de Luís Mateus, sub-director do Maisfutebol. Pode segui-lo no FACEBOOK e no TWITTER. O autor usa a grafia pré-acordo ortográfico.