PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«WILL» – de Ellen Perry.
O que seria capaz de fazer para ver o seu clube na final da Liga dos Campeões? Qual foi a maior loucura que jamais cometeu para assistir a um determinado jogo de futebol ao vivo?

Comecemos por mim.

Em junho de 2000 decidi arrancar rumo à Holanda. Levei o meu fiel Opel Corsa à revisão, comprei os bilhetes para o Portugal-Roménia, juntei-me ao meu bom amigo Rémulo e rumámos à cidadezinha de Arnhem. 1700 kms em alcatrão.

Um plano brilhante. Perfeito, não fosse a nossa excessiva crença nas potencialidades do meu primeiro carro. O bólide, pese toda a sua boa vontade, já tinha 12 anos e muitos milhares de quilómetros nas pernas. Ou nos pneus. Ou no motor. Ou na tramada da junta da colaça.

Numa interminável autoestrada já em território belga, nas cercanias de Lokeren, o meu compagnon de route salivava num merecido e justificado descanso quando o desperto, num sorriso assustado.

«O fumo que está a sair do motor será mau sinal? Eh pá, isto está a soluçar. Ui, cheira-me a queimado». Na rádio ecoava o aberrante, demoníaco e aditivo som dos Marylin Manson. Não há coincidências.

A viagem, pelo menos para o pobre Corsa, morreu ali. Portugal, com dois adeptos mais mortos do que vivos atrás de uma baliza, ganhou. Costinha fez o golo em cima do apito final.

Este filme narra a odisseia do pequeno Will. 11 anos, fanático do Liverpool. Parte de Kent e tem Istambul como destino. Tudo em nome do amor por um clube. Felizmente, para ele, ainda não tinha carta de condução.

No elenco está Damian Lewis, o brilhante Nicholas Brody, da série Homeland. Vejam isto e enviem-me as vossas histórias.



PS: «Dallas Buyers Club» - de Jean-Marc Vallée.
Matthew McConaughey perdeu mais de 20 kgs para encarnar Ron Woodroof. Comboy, texano, homofóbico. Em 1985 é-lhe diagnosticado o vírus da SIDA. Jared Leto veste a pele de Rayon, um travesti. Os dois atores são candidatos fortíssimos à conquista de Oscars. O filme é ótimo. Ainda assim, apesar de McConaughey ter aqui o papel da sua vida, continuo a preferir Christian Bale, no O Maquinista. Bale perdeu 29 kgs e o juízo durante a rodagem da película.



SOUNDCHECK:

«UM A ZERO» - Pixinguinha.
Esta é provavelmente a música mais antiga sobre futebol. Se conhecerem alguma composição anterior, agradeço a correção da minha afirmação.

«Um a zero» data de 1919 e versa a conquista do Brasil no Campeonato Sul-Americano. O nome evoca o resultado da final diante do Uruguai, golo do monstro Friedenreich. Ouça isto e faça uma viagem no tempo, direto ao coração do futebol a preto e branco.



PS: «LOUD LIKE LOVE» - Placebo.
A voz de Brian Molko chega ao sétimo álbum de estúdio dos Placebo. Sem o brilhantismo de outrora (o álbum homónimo, editado em 1996, é genial), mas com os traços inconfundíveis da sua música. O single Too Many Friends entra rapidamente no ouvido. Para fãs e curiosos, a escutar sem níveis de exigência elevados.



VIRAR A PÁGINA:

«A JOURNEY THROUGH PORTUGUESE FOOTBALL» - Tom Kundert.
Um livro sobre o futebol português escrito por um jornalista inglês. Kundert, há 20 anos no nosso país, socorreu-se de depoimentos preciosos para dissecar a essência do nosso desporto-rei. Bem humorado, leve, por vezes intrigante, uma obra a merecer atenção.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.