Não sei se é de mim, mas há qualquer coisa de surpreendente em tratar o presidente do Sporting por Bruno.

Bruno é um colega da faculdade.

Bruno é um primo afastado.

Bruno é um médio do Marítimo, FC Porto e Nacional.

O presidente do Sporting, diz-nos a tradição, tem um nome composto e de preferência com consoantes dobradas. Bettencourt, Roquette ou até Soares Franco.

Um nome que impressione uma sogra, e sobretudo um gerente de conta.

Bruno, apresentado assim, isolado e independente, parece ser apenas uma humanização do cargo.

O Sporting habituado a apelidos de consoantes dobradas informa que desceu enfim do pedestal e tornou-se um clube fraterno. Misturou-se com o povo e cumpriu o sonho do comunismo: a revolução do proletariado.

Mas terá mesmo, leitor?

O assunto é sério e merece um estudo rigoroso.

Ora por isso lembrei-me que Miguel Esteves Cardoso criou há anos uma fórmula para estudar o pedigree dos nomes. Uma coisa a sério.

Basicamente diz ele que há três categorias de nomes. Os nomes aristocráticos são de categoria um, os nomes que quando os ouvimos não nos saem da cabeça (Saturnino, por exemplo) são de categoria três, todos os outros são de categoria dois.

O mesmo com os apelidos: se for aristocrático ou de alguém que um dia fundou um banco, é de categoria um, se for bizarro do género Laranjeira, Xistra, Benquerença ou Coroado, ou então se for demasiado comum (Silva, Santos, Pereira), é de categoria três, todos os outros, incluindo os nomes adotados por judeus que fugiam da inquisição, são de categoria dois.

As contas são fáceis de fazer: nomes e apelidos de categoria um valem um ponto, de categoria dois valem dois pontos e de categoria três valem três pontos. Os apelidos são multiplicados por três.

Soma-se tudo, divide-se pela quantidade de nomes e quanto mais baixo for o resultado do nome completo, maior nobreza há na pessoa que o utiliza.

Simples, não é? Vamos lá a contas.

Luís Filipe Ferreira Vieira, por exemplo. Luís e Filipe são nomes de reis, categoria um. Ferreira existe aos milhares, categoria três, e Vieira categoria dois. Portanto: 1+1+(3x3)+(2x3)=17. Divide-se por quatro e dá um resultado final de 4,25.

Jorge Nuno Lima Pinto da Costa, agora. Jorge é 2, Nuno é 1, Lima é 2, Pinto é 1 (eu também discordo, leitor, mas o MEC é que fez as regras e garantiu que Pinto é nome de fundador de um banco) e Costa é 3. 2+1+(2x3)+(1x3)+(3x3)=21. Média 4,20.

Bruno Miguel Azevedo Gaspar de Carvalho, agora. Bruno é 2, Miguel é 1, Azevedo é 2, Gaspar é 1 e Carvalho é 2. 2+1+(2x3)+(1x3)+(2x3)=18. Média de 3,60.

Recapitulando, Luís Filipe Vieira 4,25, Pinto da Costa 4,20 e Bruno de Carvalho 3,60.

Bruno de Carvalho, meus senhores, é entre os presidentes dos três grandes o mais alto que existe na hierarquia social. Ainda longe da aristocracia é certo (Miguel Esteves Cardoso diz que começa em médias inferiores a 2), mas o mais perto que temos.

De resto, aliás, José Alfredo Parreira Holtreman Roquette, por exemplo, tem também 18 pontos e média de 3,60, e até José Eduardo Fragoso Tavares de Bettencourt tem 17 pontos e média de 3,40. O que diz tudo, no fundo.

Conclusão: não vamos deixar-nos enganar pelos nomes próprios, leitor. Quando olhar para uma capa de jornal e ler que "Bruno aperta com os bancos", não pense que é o meu amigo da faculdade ou o seu primo afastado a ameaçar o sistema financeiro.

O poder ainda não caiu na rua: só veio à janela falar com o povo.

O que é louvável.