Se é verdade que hoje se fala muito menos de clubes à beira da falência, o facto é que a estabilização económica estará longe de ser alcançada no futebol português. As dívidas fiscais ainda necessitarão de um plano especial? Se ainda não está tudo resolvido, por que é que ainda nenhum clube sofreu as sanções previstas na lei? Para Guilherme de Aguiar, «as gestões têm sido cada vez mais realistas».

Maisfutebol -- Com a publicação, há quatro anos, da lei que impõe aos clubes em competições profissionais a adopção das SAD's ou do Regime Especial de Gestão, uma série de garantias foram exigidas. Dizia-se que quem não as cumprisse não entrava, ou descia de divisão. Até agora, nenhum clube foi penalizado...

José Guilherme de Aguiar -- É bom sinal, é sinal de que as exigências são cumpridas! Os pressupostos e as exigências que foram avançadas nessa altura são muito claros. A nossa função é fiscalizar esses pressupostos, mas o que posso dizer é que se até agora nenhum clube sofreu as penalizações previstas no caso de incumprimento é porque todas as garantias foram apresentadas. É preciso notar que não nos cabe a nós pôr em causa a veracidade dos documentos que nos são apresentados. Quando falamos de um documento passado pela Segurança Social a comprovar que as prestações foram pagas, ou das Finanças, a informar-nos que os impostos foram pagos, não nos compete a nós pôr isso em causa. A verdade é que os clubes vão apresentando as garantias que nós exigimos e por isso, e só por isso, entram nas competições profissionais. Nós, Liga, é que dizemos a partir de que momento é que pretendemos receber uma declaração do Estado que diga que a situação de determinado clube está regularizada. E não vai ser a Liga que vai pôr em causa a veracidade desse documento. Ele é original, é proveniente da entidade competente para o emitir, por isso não há aqui azo a dúvidas.

MF -- Então depreende-se que houve uma enorme melhoria nos clubes nos últimos anos.

JGA - E não houve? Acho que isso é por demais evidente. Claro que não estamos numa situação ideal, longe disso, mas insisto que na maior parte dos casos a gestão dos clubes passou a ser mais racional e mais realista. Os clubes aperceberam-se que essa era a única solução para estabilizarem e para tornarem a sua realidade financeira viável.

MF -- A UEFA também está a ponderar impedir a participação de clubes não cumpridores a partir de 2004/05...

JGA -- Sim, é uma proposta que está a ser estudada e que ainda recentemente numa reunião realizada na Suiça foi posta em cima da mesa. A ideia é a de os clubes, para participarem nas competições europeias, terem que se sujeitar a obedecer a determinados requisitos, sendo que um deles é o de não haver dívidas. Julgo que todos estarão de acordo com esta ideia: não é justo que um clube que tenha débitos e que esteja a competir, uma vez que está numa situação de concorrência preferencial e desleal em relação a um clube que, não tendo débitos, se calhar não tem as mesmas capacidades desportivas, porque preferiu cumprir as suas obrigações.

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