É, talvez, o problema mais crónico do futebol português. Continua a haver salários em atraso e o Sindicato dos Jogadores sobe o tom da contestação. Guilherme de Aguiar garante que a Liga faz o que pode e até revela que «as queixas que entram nem são assim muitas...»

Maisfutebol -- Um dos problemas crónicos do futebol português tem a ver com os salários em atraso. É uma questão que o preocupa?

José Guilherme de Aguiar - Claro que é, mas o que posso dizer em relação a isso é que a Liga não tem muitos mecanismos para fazer mais do que já está a fazer. Fala-se muito sobre a questão dos ordenados em atraso, mas a verdade é que são raras as queixas e reclamações que recebemos sobre isso. Existem, sim senhor. Mas são em pequeno número.

MF -- O presidente do Sindicato dos Jogadores fala num número elevadíssimo de jogadores com salários em atraso. Tem ideia do número exacto?

JGA - Não, sinceramente não tenho. Mas insisto: há regulamentos que prevêem e punem essas situações. Temos mecanismos que obrigam a não haver atrasos nos ordenados, a não haver débitos de clubes a jogadores. Temos a possibilidade de decretar justa causa a rescisões de jogadores com ordenados em atraso, ou mesmo de inibir a renovação de contratos. Agora, confesso que não estou bem a ver quais seriam as formas que nos permitiam saber exactamente qual é o panorama. Os próprios clubes têm uma regulamentação colectiva que lhes permitem determinar que medidas devem ser adoptadas para prever situações como ordenados em atraso. Chegámos a uma fórmula acordada com o Sindicato que tem a ver com o chamado pré-aviso de despedimento: no caso concreto de salários em atraso, o jogador da três dias ao seu clube para regularizar a situação. No caso de o clube não pagar, o jogador fica imediatamente com o direito de assinar por outro clube. Se, entretanto, o clube devedor mandar à Liga um papel reconhecido pelo banco de uma transferência bancária, o processo vai imediatamente para a Comissão Arbitral Paritária. Se o clube não enviar nenhum comprovativo de pagamento do que está em atraso, é o próprio director-executivo que tem poderes para decretar, a nível desportivo apenas, um despedimento com justa causa. Se isso acontecer, o clube já terá que ir à Comissão Arbitral Paritária, ou ao Tribunal da Trabalho para alegar as suas razões.

MF -- Disse que há cada vez menos queixas que entram na Liga. Na sua opinião, os clubes têm adoptado uma gestão mais racional?

JGA - Sem dúvida. Que ninguém duvide disso. Claro que ainda há problemas, mas os últimos anos têm apontado claramente uma melhoria a esse nível. Os clubes perceberam que têm que adoptar uma gestão mais racional dos seus recursos e até perceberam que não têm um directo prejuízo desportivo por gastarem menos nos jogadores.

MF -- Mas continua a haver dinheiro a mais a circular no futebol português...

JGA - De acordo. O controlo e a contenção devem ser ainda maiores, isto porque continua a haver clubes a viver acima das suas possibilidades. Mas têm-se notado, cada vez mais, exemplos de clubes com óptimos resultados desportivos e que mostram uma gestão financeira extremamente racional. São esses exemplos que devem ser cada vez mais seguidos.

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