Disponível para avançar. Em longa entrevista ao Maisfutebol, o director-executivo da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, José Guilherme de Aguiar, manifesta a sua disponibilidade para vir a suceder a Valentim Loureiro na presidência da Liga, «se essa for a vontade dos clubes». Mas Guilherme de Aguiar faz questão de explicar. Para já, essa é «apenas uma hipótese» e nada tem a ver com uma eventual falta de solidariedade para com o líder do organismo que gere o futebol profissional.

O motivo que o faz admitir um cenário de candidatura à Liga integra-se no processo de revisão dos estatutos, que está ainda na mesa de discussão entre os clubes. Guilherme de Aguiar explica o que está em causa e mostra-se aberto a desenhar uma «nova Liga, mais moderna, mais profissional e mais eficiente».

Maisfutebol -- Que contornos poderá ter, então, a nova Liga que está a ser desenhada na revisão dos estatutos?

José Guilherme de Aguiar -- A actual revisão dos estatutos tem a ver com a proposta que surgiu no sentido de redefinir as competências do presidente, as funções da Comissão Executiva, o número de elementos da mesma Comissão e um conjunto de novos pressupostos pelos quais a Liga se poderá reger. Se por acaso se vier a perfilhar o entendimento em relação à nova figura do presidente, o que, fundamentalmente, está em causa é o seu carácter totalmente profissional, ou não. Poderá, por isso, desempenhar as suas funções a tempo inteiro, há quem defenda isso.

MF -- E se o presidente da Liga passar a sê-lo a tempo inteiro, a figura do director-executivo fica diluída?

JGA -- Em princípio, sim, mas nada disso está totalmente definido. Continurá, de certeza, a haver uma Comissão Executiva, com uma existência colectiva. O que poderá mudar é o seu número. Deixa de haver algum titular que, de modo especial, pudesse ter uma referência, com tem actualmente nos estatutos, com uma competência superior, que coordenasse as competências genéricas atribuídas à Comissão Executiva. A ideia é cada membro da Comissão Executiva passar a ter a uma área específica de competência. Essa questão tem sido discutida pelos clubes, estamos ainda no plano da discussão, mas terá alguma lógica pensar nessas alterações.

MF -- Como comenta as posições já tornadas públicas pelos presidentes do Sporting e do F.C. Porto, colocando-se contra a reeleição do major Valentim Loureiro e defendendo a escolha de um presidente profissional e a tempo inteiro?

JGA -- O que posso dizer sobre isso, apenas, é que há quem acredite que esta discussão sobre a alteração dos estatutos tem a ver essencialmente com isso: com uma forma de pôr em causa a posição de Valentim Loureiro enquanto presidente da Liga.

MF -- E qual é a sua posição? Concorda que este tenha que ser profissional?

JGA -- Tenho algumas dúvidas ainda sobre tudo isto, mas o que estou, para já, a explicar é que há duas correntes, no fundo: uma pretende um presidente que desempenhe as suas funções a tempo inteiro e seja totalmente profissional, enquanto há uma outra corrente que vê a figura do presidente como alguém que não necessitará de estar em permanência em todas as actividades da Liga e que seja, essencialmente, a imagem dessa entidade. Essa corrente coloca o director-executivo e outros directores da Comissão Executiva como responsáveis, esses sim a tempo inteiro, das mais diversas áreas de actuação da Liga.

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MF -- A solução poderá passar por uma proposta que resuma as duas posições?

JGA -- Sim, julgo que sim. Essas duas correntes estão a tentar encontrar uma solução alternativa que dará ao presidente a opção de escolha: pode dizer que quer ficar a tempo inteiro, o que provocará aí sim uma diluição do poder do director-executivo. Mas vamos supor que o presidente escolhe uma hipótese em que prefere ficar com uma ou outra área em que se sente especialista, delegando nos directores as outras funções. O tal presidente profissional chama a si, em específico, uma ou outra matéria que diz «disto percebo eu», mas ficarão sempre outras áreas reservadas à competência de outros directores. Havendo sempre a possibilidade, claro, de haver consultores de áreas como a jurídica, por exemplo. Uma decisão sobre uma questão desportiva, como a marcação de um jogo, o não registo de um contrato trabalho, ou outras decisões do género, são actualmente da competência da Comissão Executiva, e nalguns casos da competência exclusiva do director-executivo, essas decisões terão sempre que ser tomadas por alguém que detenha competência para as tomar, sem o que elas não seriam objecto de recurso. Ou melhor: se foram objecto de recurso, seriam imediatamente anuladas, porque tomadas por alguém sem competência e autoridade para as tomar. Decisões disciplinares só são tomadas pela Comissão Disciplinar, por exemplo. Em cada área, deverá existir, sempre que possível, alguém (individual ou colectivo) que detenha competência sobre a matéria. Há pareceres jurídicos sobre os quais vou ter que me debruçar e, naturalmente, não sou dono absoluto da verdade e não vou dizer que a minha decisão é a correcta só porque foi tomada por mim...

MF -- Independentemente dos exactos contornos da solução que vier a ser encontrada, está disposto a ser o presidente dessa nova Liga?

JGA -- Em função do que é a minha história e o meu trabalho aqui na Liga, a minha primeira resposta é que sim: estou disponível. Mas o que estou disponível é para encarar a hipótese de apresentar uma candidatura a presidente da Liga, se estiverem verificados os pressupostos e as condições que, na altura devida, serão delineados. Se essa for a vontade dos clubes, é uma hipótese que não ponho de parte.

MF -- Este mandato termina no final da época. O próximo já será o de uma «nova Liga»?

JGA -- A vontade dos clubes parece ser essa. Mas recordo que estamos a falar de alterações estatutárias e não de meras alterações regulamentares. Por isso, precisam de ser aprovadas com dois terços dos votos, em Assembleia Geralda Liga...

Mais capacidade de decisão, menos margem de contestação

MF -- Quer uma maior autoridade e legitimada nas decisões para diminuir a margem de contestação, é isso?

JGA -- Julgo que há uma noção que se vem propagando que o trabalho executivo na Liga exige não só um trabalho em determinadas tarefas, mas também uma administração mais específica e mais modernizada. Nesta mudança que está a ser preparada, a figura do presidente é, obviamente, muito importante, mas centraliza-se, essencialmente, como aquele que dá a imagem da Liga como um todo. O presidente da Liga, quando fala, vincula toda a estrutura, independentemente da decisão ter sido tomada de forma colegial, ou não. É normal que, por parte de alguns clubes, sobretudo os que vão mais avançados em termos de SAD's, pretendam avançar também com essa experiência na Liga.

MF -- Trata-se, portanto, de modernizar a estrutura da Liga.

JGA -- Esta proposta que surgiu, e que ainda está a ser discutida, aborda preocupações que nós, na Liga, temos desenvolvido, mas que não estão totalmente concretizadas. Uma delas é a área comercial, talvez a principal. Neste momento, o responsável por essa área comercial é o director-executivo. Trata-se de uma área que necessitamos de modernizar e que, na Liga, implica preocupações de nível diferente da área comercial de um clube, por exemplo. Enquanto num clube moderno, a área comercial tem a ver com o merchandising e com questões muito mediáticos, falar-se da área comercial na Liga é um pouco mais complexo, porque é uma matéria a qual devemos apostar cada vez mais, mas que no nosso caso é muito menos mediatizada.

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