Como é que o futebol português se vai financiar nos próximos anos? Os modelos continuarão a ser os mesmos? As transmissões televisivas e a publicidade têm sido as principais receitas, mas há sinais que apontam para novos tempos que aí vêm. Para Guilherme de Aguiar, o melhor será seguir o exemplo inglês...

Maisfutebol -- Num modelo totalmente profissional, como é que a questão das receitas que o futebol gera poderá ser resolvida? Qual deve ser a intervenção da Liga na negociação das transmissões televisivas e dos contratos publicitários?

José Guilherme de Aguiar - Essa é, provavelmente, a questão mais complexa a discutir entre clubes e Liga. Quem deve negociar as transmissões? Como é que esse processo deve ser conduzido? Bom, no início essa negociação era feita directamente pelos clubes. Depois, foram eles próprios que aprovaram normas que deram à Liga esse poder, sendo que mais tarde revogaram essas normas. Há aqui várias questões ao redor das receitas das transmissões televisivas. Podemos falar dos direitos de transmissão dos jogos e dos resumos. São coisas diferentes. Nas transmissões dos jogos, cada clube pode, neste momento, negociar os seus jogos com diferentes operadores, sendo que todos os operadores estão autorizados a recolher imagens para resumos. Isto depois de ter saído uma Lei da Televisão, que julgo que foi aprovada em 1997, e que em muito nos prejudicou. Antes dessa possibilidade de todos os operadores recolherem imagens, os resumos eram uma importante receita para os clubes. Em 1994/95, há sete anos portanto, foram à volta de 400 mil contos, o que dá a ideia da importância que essa receita tinha.

MF -- Mas o grande bolo, agora, tem a ver com as transmissões integrais...

JGA -- Sim, mas mesmo nesse caso dou o exemplo de Inglaterra e de França. Serão, neste momento, os dois campeonatos mais rentáveis do ponto de vista financeira, nomeadamente a inglesa que é a mais poderosa do mundo do ponto de vista de receitas, e têm um modelo de negociação que é completamente diferente do nosso: os jogos são negociados de igual modo para todos os clubes, numa negociação geral que acaba por beneficiar toda a competição. Neste momento, o modelo que é adoptado em Portugal só é adoptado na Grécia, em Itália e em Espanha, sendo que em Espanha este é o último ano assim, pelas informações de que disponho.

MF -- E qual é o modelo que perfilha?

JGA - Não posso defender com unhas e dentes um modelo que, nestes moldes, nunca foi praticado em Portugal, mas o que posso dizer é que as indicações que me são mostradas apontam para que o modelo inglês seja o mais rentável. Aliás, temos vindo a ser assediados pelos ingleses, nós e outras ligas, para nos apercebermos das vantagens dessa negociação colectiva.

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