Imune a pressões e contestações. Manuel de Brito, presidente do Instituto Nacional do Desporto (IND) e do Conselho Nacional de Anti-Dopagem (CNAD), refutou todas as acusações dos especialistas que ouvimos e garantiu ao Maisfutebol que «todos os casos que o CNAD levantou correspondem a situações que devem ser punidas». 

Em declarações ao nosso jornal, Manuel de Brito foi mais longe. Criticou a posição de alguns especialistas, reforçando a bondade dos regulamentos em vigor: «Não há qualquer razão para alterar as punições. O limite dos dois nanogramas no caso da nandrolona não só está correcto, como foi reafirmado recentemente pelo departamento médico da UEFA. Ainda ontem, o director do laboratório de Lausanne defendeu esses números. São valores que o COI recomenda e que tanto a FIFA como a UEFA subscrevem. Os recentes castigos de Guardiola e Stam (ndr: suspensão extensiva a jogos internacionais) confirmam isso mesmo». 

Perante um mar de dúvidas que se levantam entre diferentes agentes ligados ao fenómeno futebolístico, não será que o CNAD requestiona tudo o que se está a passar? Manuel de Brito garante que não: «Tenho que tomar uma posição gelada em relação a tudo isto. Não me posso deixar afectar por pressões ou emoções. Os dados que se me apresentaram têm sido esclarecedores. Todos os casos que apontámos como ilícitos, seja o do Quim ou dos restantes, em relação a todos eles não restam quaisquer dúvidas. Fizemos o que devíamos ter feito». 

Valores disparam no final da época 

Para sustentar esta posição, Manuel de Brito revelou alguns números que, na sua opinião, ajudam a tirar dúvidas: «Na época passada foram feitas 471 amostras na I e II Ligas. Entre elas, 31 entraram na coluna de poderem ser suspeitas, porque acusaram valores superiores a 0,5 nanogramas de nandrolona, sendo que 0,5 é o valor considerado normal no nosso corpo. Dessas 31, quatro passaram os dois nanogramas. Ora, dessas quatro, três foram na fase final do campeonto. Dois no mesmo clube, o Campomaiorense».  

Manuel Brito junta estes dados a mais dois que considera significativos: «Quarenta e oito por cento das 31 amostras acima dos 0,5 nanogramas foram no último mês de competição. 74 por cento a partir de 21 de Março. Isto é esclarecedor, ou não? Estamos a brincar?? Então não se percebe que há uma grande ocorrência no final do campeonato, quando a coisa começa a doer? Dois casos no mesmo clube! Poucos clubes nessa lista, uma série deles estão completamente limpos... Então o risco de isto acontecer sem culpa de ninguém é só para alguns?» Perguntas retóricas que Manuel de Brito utiliza para tentar provar a razão do CNAD.  

O presidente do IND e do CNAD volta à carga e questiona: «O facto de ser quase tudo no final da época diz muita coisa. Alguns especialistas deviam ter mais cuidado quando dizem certas coisas. Os responsáveis do Braga, então, foram de uma inabilidade completa na condução desta questão. Prejudicaram-se a si mesmos, prejudicaram o Quim, quebraram deveres de sigilo que deviam guardar... Não lhes reconheço legitimidade para criticarem o LADB, que é um laboratório credenciado internacionalmente e que funciona com rigor». Para sublinhar a credibilidade do Laboratório de Análises de Dopagem e Bioquímica de Lisboa (LADB), Manuel de Brito destaca que «ainda recentemente, técnicos da Suiça pediram para estagiar cá, porque sabem que somos uma referência de credibilidade». 

Coincidências ou... talvez não 

Sobre a possibilidade de os valores ilegais de nandrolona serem produzidos pelo próprio organismo, Manuel de Brito retoma o tom irónico e pergunta: «E só no final da época é que os jogadores comem carne de porco, javali, lavam os dentes com dentífrico, usam champôo ou têm relações sexuais? Então nos outros meses não fazem amor?? Não somos parvos a esse ponto. Não tentem fazer-nos de parvos, por favor...» 
 
 

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