Tem uma folha A4? Lisa, aos quadradinhos ou de preferência pautada a verde e branco, para assinar. O risco ao meio mais em losango do futebol português não precisou de grandes pausas ou sílabas enroladas no canto da boca na hora de decidir. O «sim» foi rápido, firme, como aquele Hoje não nos deixaram ganhar, depois de mais um punhado de erros de arbitragem. Firme. Como ontem. E anteontem. E antes disso.

Já o Benfica contratou cinco brasileiros, seis argentinos, dois pontas-de-lança do Suriname e um guarda-redes de Papua Nova Guiné, a julgar pelas manchetes. Os mesmos jornais desenham primeiras páginas com as eleições na Luz. Os sócios lá terão de escolher, antes de tempo - assim, pelo menos, passará mais depressa -, entre o bigode irritante de Vieira e a inexistência dos outros. Quem? Recorda ainda um dos jornais o avanço filipino - antes fossem as bolachas, agora também em caramelo - de há séculos para justificar uma não-candidatura. Que tal tio?



No Porto conseguiu-se o golpe do costume a sul. Descobriram-se pechinchas, a maior parte sem problemas dentários, para reforço imediato, com possível jackpot mais tarde. Os dentistas do Dragão mostram-se estranhamente ultrapassados no tempo. Em Itália levou-se a sério o ditado e a cavalo que era não dado olhou-se bem o dente. Cissokho, que esteve a horas de ser o negócio do século, vai esperar por um cliente mais crédulo. E rico. Afinal, quanto vale uma grande exibição em Old Trafford? Estou a ouvir 10 milhões daquele senhor de cabelo grisalho na segunda fila... Alguém dá 15?

La Roja é a melhor selecção de sempre. E eu tudo bem. Mas Rivelino, Gerson, Tostão, Pelé e Jairzinho devem ter razões de sobra para torcer o nariz aos números. Quaisquer que sejam. O puta madre! de Villa, e se não o disse devia ter dito, não é mais do que o extasiado puta que pariu!, na passada e de braços para o céu, de Carlos Alberto no México. Agora, Xavi, Iniesta, Villa, Torres e Fabregas reclamam as faixas com o direito incontestável das batalhas travadas em campo. E eu tudo bem. Os livros de história vão dar-lhes as páginas que merecem.

Cristiano Ronaldo foi finalmente para o Real, que esbanjou umas coroas que podiam matar a fome em África. Kaká antecedeu-o num clube ambicioso como sempre e endividado como nunca. De Barcelona ainda gritam, com eco, que Messi vale mais que CR7, futuro CR9 porque há Raúl e Raúl é Raúl; da Argentina lembram que o melhor do mundo é La Pulga e não agora o homem mais bem pago do planeta. O ManUnited encheu os cofres e nem pestanejou quando Tévez também saiu. O próximo ídolo dos red devils poderá vir de qualquer lado. Há money vivo, que se cuidem!

Mourinho segue metódico, mais preocupado em segurar o indomável Ibra do que em contratar génios. O mundo anda às compras, desconfiado, tentando não ser engolido por novo crash na economia. Afinal, a julgar pelos gestos desolados dos corretores da bolsa, ainda não há retoma. Olha-se para o Bernabéu de soslaio, atira-se com críticas, cai-se em cima de Pérez. Sim, de Pérez. Florentino. Não de Paris, que um dia ainda irá a Madrid para sair com Ronaldo. A pressão incha de blanco na capital.

Os holofotes voltam-se para Alvalade, onde se suspira por um Matigol. Chileno, não argentino, que vale cinco kilos. Pelo menos. Na Luz, Jesus assinou e cometeu o pecado de não agradecer aos «motocarros da Amadora». Imperdoável. O Benfica espera novo milagre, agora, finalmente, com contornos bíblicos, esquecendo que os problemas são mais profundos do que quem se senta no banco. Enfim, é a silly season. Tem uma folha A4?

«Era capaz de viver na Bombonera» é um espaço de opinião de Luís Mateus, subdirector editorial do IOL, que escreve aqui todas as semanas. Siga-o no Twitter
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