O grande fantasma ergueu-se e apoderou-se de Secretário logo após a passagem por Espanha. O fantasma chamava-se Real Madrid, clube que acolheu o jogador durante uma época e meia. As sucessivas críticas da Imprensa tiveram efeitos psicológicos no atleta, que regressa ao F.C. Porto em Dezembro de 1997, mês em que retoma o contacto com a bola e estreia-se como titular frente ao Chaves (2-2). 

Mas Secretário estava longe de ser o mesmo. A sua forma de jogar já não era tão desinibida como em épocas anteriores. Em cada lance, revelava uma enorme falta de confiança e acusava alguns problemas no aspecto defensivo. O «caso Paula», a novela mais mediática do futebol português, tinha provocado efeitos nefastos e assume-se como o segundo fantasma da sua vida. Conclusão: por muito que tentasse não se conseguia libertar-se da pressão, que de repente os sócios colocaram nos seus ombros. 

Mesmo assim, acabou a época 1997/98 como titular, fechando a ala direita do clube das Antas, a tal em que Sérgio Conceição abrangia as atenções dos mais atentos. Secretário estava na sombra, longe do êxito que o tinha levado para o poderoso Real Madrid, mas António Oliveira, o treinador da altura, insistia nos seus atributos e Fernando Santos aumentou-lhe a confiança na temporada seguinte. 

No ano mágico do penta, completa 31 jogos e é um dos jogadores mais utilizados da equipa. Mas a contestação mantém-se. Os adeptos não o aplaudem sempre que toca na bola e cada erro é apontado com o dedo cruel da crítica; os assobios sucedem-se à medida que cresce a antipatia. Tudo estava perdido. Na última temporada, a onda da polémica atinge o seu pico mais elevado. 

Os motivos são vários. O lateral-direito deixa de ser utilizado com assiduidade e Nélson consegue agarrar o lugar, significando que a presença no Europeu-2000 estaria em risco. O cenário ganha contornos escuros, mas a luz expande-se na final e na finalíssima da Taça de Portugal, jogos em que Secretário retoma a titularidade. A conquista permite-lhe o passaporte para o Campeonato da Europa, onde apenas foi utilizado uma vez. 

Assobios com a camisola da selecção 

A contestação ganha picos mais exacerbados. Logo após o Europeu-2000, perde a titularidade no F.C. Porto, apesar de o seu nome continuar a ser presença assídua na selecção. Em Viseu, no primeiro jogo da equipa nacional sob o comando técnico de António Oliveira, o jogador do F.C. Porto vive os piores minutos da sua vida. 

Na segunda parte do particular com a Lituânia, quando entra para o lugar de Nélson, recebe um coro de assobios. Situação desagradável, mas que se piorava sempre que Secretário tocava na bola. No final do encontro, Pinto da Costa saiu em sua defesa, mas a reacção foi incapaz de esquecer tudo o que se passara. 

A reconciliação aconteceu em 11 de Outubro, quando fez a exibição da sua vida frente à Holanda. Com a camisola da selecção distinguiu-se pela forma como se entregava em cada lance, em cada disputa de bola, como se fossem os primeiros do jogo. A defender esteve irrepreensível, no verdadeiro sentido da palavra. A Imprensa e os adeptos renderam-se e o jogador renasceu nas cinzas. 

Os outros textos 

1. Secretário em entrevista: «Jogo com a Holanda marcou a viragem» 

2. Factos e números 

3. A carreira 

4. Diz quem o conhece 

5. A reconciliação com o «tribunal» das Antas 

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