A surpresa foi enorme. Secretário fixa residência em Lisboa durante uma temporada, mas a adaptação ao meio é bastante dolorosa. A sua timidez condicionava o contacto com os outros jovens da sua idade e as saudades de casa apertavam. De tal forma que só a presença dos pais o fazia sentir mais integrado. A família respondia ao apelo e viajava para junto do filho todos os fins-de-semana, com o intuito de aliviar a nostalgia da distância.
No lar de Alvalade enceta amizade com Lay, que começa a despontar no campeonato de juvenis e depressa se transforma no seu melhor amigo. Os golos do guineense estiveram na origem de uma observação rigorosa por parte dos responsáveis do F. C. Porto, mas o bloco de notas também fica com o registo de outro nome, o de Secretário. Do interesse à primeira abordagem foi uma pequena nesga de tempo e tudo ficou acordado antes do final da época. Sair de Lisboa parecia-lhe a solução mais viável e a possibilidade de viver numa cidade perto de São João da Madeira agradava-lhe sobremaneira.
Juntamente com Lay, o médio-ala direito chegou ao Porto em 1986, trazendo na bagagem o título distrital de juvenis. Mas novas dificuldades se lhe depararam. Agora, já não era a força da distância que o inibia, mas antes a pujança da concorrência. Nos juniores azuis e brancos, a rivalidade era feroz e Secretário tinha de lutar com nomes sonantes por um lugar na equipa. Na altura, Vítor Baía já encantava na baliza; Fernando Couto desarmava os avançados; Jorge Couto baralhava os defesas; Paulo Alves marcava golos.
Na primeira época não jogou com regularidade, pois funcionava como segunda opção. Jogava a espaços, geralmente entrava como suplente, mas só o facto de estar perto da família fazia-o sentir-se feliz. Na segunda temporada tudo foi diferente. Paulatinamente, começa a jogar com mais assiduidade e o seu forte carácter transforma-se na sua imagem de marca. «Era um lutador e gostava de assumir riscos», recorda, ao Maisfutebol, Costa Soares, na altura detector de talentos. E assim se cumpriu a sua primeira etapa no futebol, cujo ponto mais alto se expressa no título de campeão nacional de juniores (1987/88).
Os outros textos
1. Secretário em entrevista: «Jogo com a Holanda marcou a viragem»
3. A carreira
- A dar nas vistas na Sanjoanense
- Veredicto: emprestado
- No lugar de Jaime Magalhães
- De extremo a lateral
- Dias negros em Madrid
- De volta às Antas
4. Diz quem o conhece
- Fernando Santos (treinador do F. C. Porto): «Pu-lo a jogar contra tudo e todos»
- António Oliveira (seleccionador): «Muitas vezes injustiçado»
- Chendo (ex-jogador do Real Madrid): «Se calhar faltou-lhe regularidade»
- Humberto Coelho (ex-seleccionador): «Correspondeu sempre»
- João Pinto (ex-jogador do F. C. Porto): «Ainda bem que foi ele a substituir-me»
- Vítor Manuel (treinador do Salgueiros): «O nome dele saiu na rifa...»
- Costa Soares (F. C. Porto): «Sempre teve grande carácter»
- Aurélio Pereira (Sporting): «Era sportinguista desde pequeno»
- José Mina (Sanjoanense): «Não era um craque, mas sobressaía»