Este é o Real Madrid da esperança. A época anterior foi um autêntico desastre. As coisas correram tão mal que a equipa ficou fora das competições europeias pela segunda vez na sua história.
Lorenzo Sanz, o presidente, não olha a gastos. Numa altura em que ainda ninguém chega aos 1.000 milhões de pesetas (1,2 milhões de contos), Sanz paga 1.200 por Mijatovic. Roberto Carlos, Seedorf e Suker custam 600 milhões cada um.
Após um bom desempenho no Euro 96, Secretário chega por 250 milhões de pesetas (300 mil contos). É um jogador internacional e não demasiado caro para fechar a defesa.
O treinador é que não está muito pelos ajustes. Fabio Capello di-lo claramente: «Pedi Karembeu, não Secretário.». Logo nos primeiros jogos os adeptos ficam zangados com o rendimento do defesa que vem do Porto. Além disso, uma inoportuna lesão torna ainda pior o início de época.
É num jogo em Alicante, contra o Hércules, que a paciência do treinador e dos adeptos se acaba. Nesse dia a exibição de Secretário é tão má que ele e outro companheiro da direita são substituídos ao intervalo. Panucci chega entretanto do Milan para resolver a situação e deixar Secretário no banco... por muito tempo.
Nesses meses as críticas convertem-se em chalaças. Num programa de rádio chegam a dizer que o problema do Real é que «trouxeram o Secretário e deixaram o chefe».
Para os adeptos, o português é o único mau jogador numa equipa que brilha no campeonato espanhol.
O Real ganha a Liga, mas para Secretário a época é definitivamente negativa. «Comecei mal», afirmou no começo da temporada seguinte. «Tive ciática e pouco a pouco perdi a confiança. O ano pasado foi mau, apesar de termos sido campeões. Quero esquecê-lo.»
Capello deixou a equipa e o alemão Jupp Heynckes é o novo treinador. «Heynckes falou comigo, deu-me confiança, disse-me que esteja tranquilo e que jogue o que sei. Quero demonstrar a toda a gente que não é um acaso estar em Madrid», diz o lateral.
Afinal Heynckes não confia nele. É inscrito para a Liga dos Campeões, mas na Liga espanhola não joga nem um minuto. «Secretário tem muita qualidade mas é introvertido», diz o técnico alemão no diário Marca, acrescentando que «um defesa tem de ser mais agressivo».
Apesar do insucesso profissional, a atitude de Secretário durante o tempo em que representa o Real é muito boa. Não tem problemas com os seus companheiros nem com o clube, algo de estranho numa equipa onde as estrelas falam de cada vez que ficam no banco. O defesa mantém sempre o respeito para com companheiros, dirigentes e técnicos.
A passagem por Madrid acaba em finais do ano 1997, quando Real e Porto chegam a um acordo para o regresso imediato do jogador a Portugal.
Para a história do Real fica que ele era o primeiro defesa direito da maravilhosa equipa do clube que conseguiu a liga na época 1996/1997 e que formou a base da que, no ano seguinte, conseguiu ganhar a Liga dos Campeões.
Os outros textos
1. Secretário em entrevista: «Jogo com a Holanda marcou a viragem»
3. A carreira
- A dar nas vistas na Sanjoanense
- O Sporting, as saudades da família e a ida para o F. C. Porto
- Veredicto: emprestado
- No lugar de Jaime Magalhães
- De extremo a lateral
- De volta às Antas
4. Diz quem o conhece
- Fernando Santos (treinador do F. C. Porto): «Pu-lo a jogar contra tudo e todos»
- António Oliveira (seleccionador): «Muitas vezes injustiçado»
- Chendo (ex-jogador do Real Madrid): «Se calhar faltou-lhe regularidade»
- Humberto Coelho (ex-seleccionador): «Correspondeu sempre»
- João Pinto (ex-jogador do F. C. Porto): «Ainda bem que foi ele a substituir-me»
- Vítor Manuel (treinador do Salgueiros): «O nome dele saiu na rifa...»
- Costa Soares (F. C. Porto): «Sempre teve grande carácter»
- Aurélio Pereira (Sporting): «Era sportinguista desde pequeno»
- José Mina (Sanjoanense): «Não era um craque, mas sobressaía»