O 10 sempre foi mais do que um número, um dorsal, mais até do que uma posição em campo. O 10 era o craque, o líder incontornável do ataque. Criador e, muitas vezes, também finalizador. No passado, muitas vezes o 10 era o 10, outras camuflava-se noutros números. «Os 10 e os deuses» recupera semanalmente a história destes grandes jogadores do futebol mundial. Porque não queremos que desapareçam de vez. 

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As lendas precisam sempre de algum tempo. Precisam que as deixem respirar, e que o pó comece a assentar. Temos de fazer-lhes contas à vida, reviver momentos, ligar os pontos entre tudo o que alcançaram e colocar em perspetiva aquilo que não conseguiram atingir. A ele, não. Sabemos desde sempre que vivemos na era de Messi, ele é o Dez do seu tempo e todos os outros não passam de meros pretendentes.

Léo vive no tempo de Cristiano Ronaldo e vice-versa. É impossível isolar o argentino ou o português longe do outro. É das suas batalhas monumentais que temos retirado o que de melhor já foram capazes de fazer. É por isso que seria sempre difícil falar da Pulga sem lembrar a máquina implacável que tem como rival. Cristiano não é um Dez, e por isso despedimo-nos dele aqui com várias vénias, reforçando que Messi não seria tão grande sem o seu arqui-inimigo.

Claro que como alguns antes e muito provavelmente outros depois dele, Messi é mais do que é um número, por mais redondo que seja. É Maradona-reencarnado, de quem se reclama, sobretudo pelos mais novos, que nunca houve nenhum nunca como ele. Os outros, mais experimentados, lembrarão precisamente o Pelusa, ou então Pelé, para contrariar sentenças de quem não nasceu a tempo de ver o cenário completo.

Uma coisa é certa: Messi estará no pódio de todas as listas das grandes lendas do jogo. Mesmo que ainda não tenha conseguido um título mundial pela sua seleção e os maradonianos façam questão de lembrar ainda que ser campeão com o Nápoles nos anos 80 é muito mais difícil do que triunfar pelo Barça, a melhor equipa de sempre, no novo milénio.

Será Messi o melhor de sempre?

A Pulga deixa de ser, mais cedo do que espera, o novo-Maradona para começar a assinar as suas jogadas com um apelido cada vez mais nobre. O caminho começa-o em Rosario e no Grandoli, por insistência da abuela. Continua no Newell’s, e atravessa-se com um diagnóstico de crescimento débil.

O tratamento é caro. O clube recusa-se a assumir as defesas, e o pai leva-o ao River Plate, que, apesar de entusiasmado com o talento, também acha investimento demasiado avultado para alguém tão jovem.

Conhecemos todos hoje o tamanho do erro.

Aos 13 anos, chega ao Barcelona e o resto é história.

Cinco Bolas de Ouro, quatro Botas de Ouro. Oito títulos espanhóis, quatro Champions. Três Mundiais de Clubes.

Estreia-se em jogo oficiais com 17 anos, em outubro de 2004, mas antes, com 16, defronta o FC Porto na inauguração do Dragão. Decalca o Golo do Século na Taça do Rei frente ao Getafe, e a cada nova jogada acentua a força dos seus super-poderes, capazes de o levar sozinho a derrubar defesas inteiras.

Campeão do Mundo sub-20 em 2005, medalha de ouro olímpico três anos depois, mas ainda a perseguir um grande título pelos AA depois de quatro finais perdidas: três Copas Américas e o Mundial do Brasil. Estreia-se pela seleção das Pampas em agosto de 2005, e é expulso logo depois por agressão ao húngaro Vanczak. Acaba a chorar no banco. Uma maldição que ainda não conseguiu quebrar. Um fardo difícil de deixar para trás.

A luta interna prossegue. Diz adeus a uma seleção que não o entende, mas volta porque não consegue viver sem ela. Aí sim, sente que tem de ser Maradona. Mesmo que possa vir a não ser, ou sequer que isso lhe tire algum pedaço.

Um percurso na seleção argentino muito diferente no percorrido no Barça.

Os recordes sucedem-se, a um ritmo vertiginoso. Por culpa daquele pé esquerdo afiado, letal, capaz de cortar defesas ao meio. Fintando. Passando. Rematando. Acelerando. Uma arma letal nas mãos de um génio, que não pode ser deste mundo. Afina os livres, que sempre foram arma de D10S. Muito a tempo, porque Barcelona e Argentina preparam-se para precisarem ainda mais dele.

Messi é a lenda que ainda se escreve aos 29 anos. Um extraterrestre que já não sabe viver de outra forma, que insistirá em carregar sobre os ombros toda a miséria da seleção argentina, mais ainda assim extraterrestre. E, amigos, é impossível que já tenhamos visto tudo.

Os melhores golos a solo:

Os 10 melhores quase-golos:

As maldades de Messi a outros grandes jogadores:

500 golos de Messi pelo Barcelona:

Lionel Andrès Messi
24 de junho de 1987

2003-hoje, Barcelona, 584 jogos, 509 golos

Argentina, 117 jogos, 58 golos

4 Ligas dos Campeões (2005-06, 2008-09, 2010-11 e 2014-15)
3 Supertaças Europeias (2009, 2011 e 2015)
3 Campeonatos Mundiais de Clubes (2009, 2011 e 2015)
8 campeonatos espanhóis (2004-05, 2005-06, 2008-09, 2009-10, 2010-11, 2012-13, 2014-15, 2015-16)
4 taças de Espanha (2008-09, 2011-12, 2014-15, 2015-16)
Supertaça de Espanha (2005, 2006, 2009, 2010, 2011, 2013, 2016)

Alguns prémios individuais:

5 Bolas de Ouro (2009*, 2010, 2011, 2012 e 2015)
4 Botas de Ouro (2010, 2012, 2013 e 2017)
Melhor jogador do Mundial (2014)
Melhor jogador europeu para a UEFA (2011 e 2015)
Melhor jogador da liga espanhola (2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2015)
Melhor jogador da Copa América (2015)
Melhor golo da Copa América (2007)
Melhor jogador do Mundial de Clubes (2009 e 2011)
Melhor jogador do Mundial sub-20 (2005)
Melhor marcador do Mundial sub-20 (2005)
Melhor jogador jovem do mundo para a FIFPro (2006, 2007 e 2008)
Golden Boy 2005
Melhor playmaker IFFHS (2015 e 2016)
Melhor marcador IFFHS (2011 e 2012)
Equipa mundial do ano FIFA (2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015)
Equipa do ano UEFA (2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2014, 2015 e 2016)
Equipa do ano liga espanhola (2014-15 e 2015-16)
Equipa ideal do Campeonato do Mundo (2014)
Equipa ideal da Copa América (2007, 2011, 2015 e 2016)
Golo da época UEFA (2006-07, 2014-15 e 2015-16)

*Venceu também o FIFA World Player of the Year, num ano em que a eleição era ainda separada. Foi conjunta de 2010 a 2016.

OUTROS 10

Primeira série:

Nº 1: Enzo Francescoli
Nº 2: Dejan Savicevic
Nº 3: Michael Laudrup
Nº 4: Juan Román Riquelme
Nº 5: Zico
Nº 6: Roberto Baggio
Nº 7: Zinedine Zidane
Nº 8: Rui Costa
Nº 9: Gheorghe Hagi
Nº 10: Diego Maradona

Segunda série:

Nº 11: Ronaldinho Gaúcho
Nº 12: Dennis Bergkamp 
Nº 13: Rivaldo
Nº 14: Deco
Nº 15: Krasimir Balakov
Nº 16: Roberto Rivelino
Nº 17: Carlos Valderrama
Nº 18: Paulo Futre
Nº 19: Dragan Stojkovic
Nº 20: Pelé

Terceira série:

Nº 21: Bernd Schuster
Nº 22: Nándor Hidegkuti
Nº 23: Alessandro Del Piero
Nº 24: Gianfranco Zola
Nº 25: Kaká
Nº 26: Lothar Matthäus
Nº 27: Teófilo Cubillas
Nº 28: Michel Platini
Nº 29: Johann Cruijff