Um dos maiores casos de 2015 já o era no ano anterior quando o relatório de Michael Garcia sobre os processos de atribuição dos Mundiais 2018 e 2022 descambou numa divulgação enviesada das suas conclusões e na demissão do advogado norte-americano – o que fragilizou ainda mais as intenções de transparência que a FIFA tentava mostrar.

Neste ano, as «bombas» que têm vindo a estilhaçar a credibilidade do organismo não tiveram apenas a maioria do seu lançamento a partir de dentro. Em 2015, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos entrou em campo e a FIFA foi atingida como nunca antes se tinha visto.

Foi em final de maio passado. Coincidindo com o congresso eletivo da FIFA, em Zurique, (que viria a eleger Joseph Blatter para o seu quinto mandato consecutivo de presidente), as autoridades suíças detiveram vários altos dirigentes do organismo. As detenções foram feitas a pedido da Procuradoria dos Estados Unidos revelando a investigação em curso nos EUA contra corrupção no futebol.

O Departamento de Justiça dos EUA anunciou o curso de uma investigação remontando a atividades criminosas como extorsão, lavagem de dinheiro ou fraude por exercício de corrupção através do futebol mundial com vários acusados, detidos e, até, já condenados. Ao mesmo tempo, ficou também a saber-se que as autoridades suíças também desenvolvem uma investigação aos processos de atribuição da organização dos Mundiais 2018, no Qatar), e 2022, na Rússia.

A «bomba» que explodiu no congresso eletivo não impediu a eleição de Sepp Blater, mas o presidente da FIFA desde 1998 não resistiu mais de três dias: anunciou a resignação. Mas com a intenção de se manter no cargo até à nova eleição (que está marcada para fevereiro).

A justiça civil tem agido mais rapidamente do que as instâncias desportivas e, em setembro, as autoridades suíças revelaram ter Blatter também sob investigação num processo que envolve também Michel Platini (o presidente da UEFA e candidato à liderança da FIFA).

Blatter foi resistindo à saída, mas a justiça desportiva do futebol acabou por questionar os seus mais importantes dirigentes. Vários têm sido os nomes envolvidos e vários foram já os dirigentes afastados.

Chegados ao final deste ano bombástico para a FIFA, o organismo que regula o futebol mundial tomou decisões que, desta vez, contrariam a regra de ter estado sempre a reboque das autoridades judiciais: no início deste mês de dezembro, as instâncias dos EUA já anunciavam a existência de 14 condenados por entre a revelação de novos suspeitos e acusados. Ainda antes de o ano chegar ao fim, já depois de algumas pressões, a FIFA agiu castigando Blatter e Platini com um afastamento do futebol por oito anos.

Um país inteiro sem atletismo

O grande escândalo de doping no mundo do atletismo também transitou de 2014 para este ano. Esta «bomba» rebentou no ano passado quando o documentário «Doping confidencial: como a Rússia fabrica os seus vencedores?» colocou em causa a legitimidade dos resultados dos atletas de uma das maiores potências mundiais da modalidade.

Cerca de um ano depois, em novembro de 2015, foi anunciado o relatório da Comissão Independente da Agência Mundial Antidopagem (AMA). As conclusões foram arrasadoras para o atletismo russo, pois responsabiliza desde atletas a treinadores e até a federação. E o documento da equipa chefiada por Dick Pound vai mais longe implicando o próprio estado russo e não deixando também de responsabilizar a federação internacional de atletismo (IAAF).

A primeira reação da AMA foi a recomendação da suspensão da Rússia desde logo implicando a ausência do atletismo russo dos Jogos Olímpicos Rio 2016. A IAAF cumpriu a recomendação e suspendeu a Rússia por doping. E a agência russa de antidopagem (RUSADA) também não escapou às consequências.

O Comité Olímpico da Rússia tenta limpar a imagem do país, desde logo, aceitando a suspensão. A questão dos Jogos Olímpicos ainda é uma incerteza. Certo, certo, é que o atletismo russo não é o único envolvido no escândalo do doping.

O turbilhão em que se vê o Sporting

O Sporting acabou de ser condenado pelo Tribunal Arbitral do Desporto (TAS, no acrónimo original) a pagar à Doyen cerca de 12 milhões de euros pela transferência de Marcos Rojo para o Manchester United .

Este foi o ponto final da justiça desportiva num processo que também vinha já desde 2014 quando o Sporting decidiu rescindir unilateralmente o contrato que tinha com o fundo de investimento detentor de 75% do passe do jogador argentino alegando justa causa. A decisão aconteceu no final de uma ano em que os leões estiveram envolvidos num turbilhão de outros casos.

A saída de Marco Silva do clube leonino foi um deles. O ano de 2014 terminou em polvorosa em Alvalade com as posições entre o treinador e Bruno de Carvalho extremadas e quase inconciliáveis. O presidente sportinguista acabou por abrir 2015 a garantir a continuidade do técnico e – um mês depois terminando o blackout – que não tinha havido despedimento.

A saída de Marco Silva de Alvalade acabou por acontecer no final da época; quando Jorge Jesus já estava a caminho de substituí-lo. O treinador agora no Olympiacos foi primeiro despedido com justa causa com as alegações da nota de culpa a variarem entre a falta de lealdade até ao não ter usado o fato do clube num jogo.

Na mesma rapidez de sucessão de acontecimentos, Sporting e Marco Silva chegaram a acordo com o Olympiacos no horizonte do treinador. Sem acordo continua ainda o diferendo entre o clube e André Carrillo. Após a vitória na Taça de Portugal na última época, o peruano não sabia se continuava no Sporting. Hoje, continua, mas suspenso e em final de contrato.

Já em agosto, Bruno de Carvalho equacionava um ano complicado quando as tentativas de renovação se faziam. O processo de renovação de Carrillo evoluiu, parou, voltou a andar, parou outra vez, etc., entre trocas de acusações e outros comentários entre as duas partes, onde se inclui o empresário do jogador peruano, Elio Casareto.

Carrillo viu-lhe instaurado um processo disciplinar que se mantém nesta altura.

O Football Leaks e o reencontro Benfica-Jesus

No final do mês de Setembro, o Sporting viu-se também envolvido no que apareceu com o nome de Football Leaks, um site onde foram publicados documentos alegadamente respeitantes aos leões e a outros clubes. O clube de Alvalade reagiu na altura com uma denúncia às autoridades.

Muito do que foi publicado (antes de ser apagado) no site Football Leaks envolvia a Doyen e o fundo queixou-se de ataque informático e de tentativa de extorsão

Entre ameaças de via judicial por salários em atraso e por quebra unilateral de contrato Jorge Jesus e o Benfica encetaram uma batalha que ficou mesmo marcada para os tribunais. A ação foi interposta pelo clube da Luz na sequência da ida do treinador para o Sporting – um dos Momentos do Ano evocado nesta edição.

O Benfica pede uma indemnização por quebra de contrato e por danos não patrimoniais que pode totalizar 14 milhões de euros. Sem entendimento na primeira audição, o processo segue em junho de 2016 na barra do tribunal.

Eva Carneiro sai a mal e Cheryshev nem devia ter entrado

A primeira jornada da liga inglesa 2015/16 ficou logo marcada por um caso com um português. A entrada de Eva Carneiro em campo para assistir Eden Hazard (levando a que o belga saísse de campo ficando a equipa com nove jogadores quando se jogava os descontos e o jogo com o Swansea estava empatado) levou a que José Mourinho perdesse as estribeiras com a sua equipa médica criticando-a
como «ingénua».

A médica acabou por deixar o clube, Mourinho foi ilibado pela federação inglesa das acusações que lhe fizeram. Eva Carneiro colocou em tribunal quer o Chelsea quer Mourinho.

A utilização irregular de Cheryshev pelo Real Madrid no jogo da Taça do Rei de Espanha frente ao Cádiz não só se revelou fatal para os «merengues» na prova, como ficará como um dos episódios de maior gozação pelos seus adversários quando se lembrarem de 2015.

Cheryshev estava impedido de defrontar o Cádiz. Uma série de três cartões amarelos vistos na Taça do Rei na temporada anterior quando representava o Villarreal impossibilitava-o de ser utilizado pelo Real Madrid na primeira mão dos 16 avos de final da Taça. E isso aconteceu mesmo. O russo não só foi titular como até marcou o primeiro golo da partida.

Foi logo em pleno jogo que a bronca estoirou, assim como também as primeiras piadas pela falha organizativa dos «merengues». A perspetiva da eliminação do Real Madrid foi colocada desde logo. E foi também o que aconteceu. O gigante espanhol (e mundial) saiu da Taça pela secretaria. O Real Madrid bem protestou e argumentou, mas a eliminação consumou-se de forma inapelável.

A detenção de Benzema, o «puñetazo» de Lopetegui e mais...

O futebol francês foi abalado pelo caso de chantagem sobre Matthieu Valbuena por causa de um alegado vídeo de teor sexual em que o jogador do Lyon apareceria com a sua namorada. Parte do abalo foi porque Karim Benzema foi acusado de cumplicidade na tentativa de chantagem: Benzema está afastado da seleção francesa.

No plano dos comportamentos, 2015 foi também o ano em que muitos traduziram o embate de abril entre Julen Lopetegui e Jorge Jesus (no Benfica-FC Porto) pela promessa do treinador espanhol de dar um «puñetazo» ao português se este lhe trocasse o nome outra vez. Nenhum dos dois confirmou as intenções. Mas foi o que ficou...

Nick Kyrgios também se arrependeu dos comentários deselegantes sobre a namorada de Stan Wawrinka. O tenista australiano não se livrou de multas e até da exclusão da Taça Davis.

Na Copa América, foi Franco Jara a centrar as atenções pela negativa com um comportamento provocatório para com Edinson Cavani, que ficou conhecido como «o dedo de Jara». O jogador do Chile acabou por não jogar mais na prova que a sua seleção ganhou.

...e mais histórias em duas rodas

Em duas rodas, o duelo entre Marc Marquez e Valentino Rossi na penúltima prova do campeonato de MotoGP acabou por marcar o título ganho por Jorge Lorenzo. Marquez foi acusado de ter prejudicado Rossi por ter dificultado a prova ao italiano, para que o seu compatriota ganhasse o Mundial. O italiano também não se livrou de críticas, depois da queda do espanhol, e saiu da última posição na última corrida do campeonato, que deu o título a Lorenzo.

Em Portugal, a polémica em duas rodas envolveu três emblemas: o Sporting, que anunciou uma parceria para o regresso ao ciclismo, a W52, que seria a parceira dos leões, mas que acabou associada ao FC Porto.

O caso promete ter etapas em tribunal com anúncios de processos a Bruno de Carvalho. O presidente do Sporting foi também uma das pessoas mais vistas no ecrãs de televisão num dia quando esteve no programa «Prolongamento» da «TVI24» e falou nos vouchers para jantares oferecidos pelo Benfica. O caso já foi para a investigação judicial além da desportiva.